Em parte, acho que esse tópico se encaixaria na área de FanMades do DollSchool, mas outra parte diz que esse objeto onde o conteúdo está escrito (sim o diário existe no RPG, e é um livro da Daphne) tem mais a ver com o GDL. Aqui vai então ~
Alguns detalhes dessa... bem, 'fic': Ela não será escrita em capítulos regulares que seguem uma ordem cronológica. Não, as 'partes' do diário são aleatórias e descritas com uma visão pessoal, descritas depois dos acontecimentos do DollSchool.
O Diário de Irene
Isto começou como um hobby dos tempos de guerra, uma forma de fazer com que os tempos de trégua passassem sem aquela ansiedade que tomava conta do grupo. Éramos minoria e, apesar do reforço que tínhamos do nosso lado, estávamos na linha de frente. Angustiante é a única palavra que poderia descrever aquela espera; a espera pela batalha, a espera para saber que outro colega seria levado pelas Doll’s e nunca mais visto.
Originalmente, a ideia foi da Rin – a que melhor conseguia manter-se otimista nessa época, uma habilidade que eu admirava incansavelmente – que tentou estimular algo que pudesse melhorar o astral de todos da resistência, mas a maioria ou a recusou ou desistiu logo no início. Os tempos são difíceis, onde a esperança vem se tornando a cada dia um ideal tão distante e, ainda assim, a única coisa que nos move dia após dia.
Escrevo neste diário com o intuito de retratar algumas coisas pela minha perspectiva. Talvez essa não seja a história que você tenha lido em livros que tratem desse assunto, ou a que especialistas tenham lhe falado, contudo, não tenho a intenção de escrever essa história, até porque para mim ela ainda não acabou. Essa é a minha história. Sei que o silêncio é uma das melhores ferramentas em uma época como essa, e tenho consciência de que apenas os vitoriosos escrevem a história – e da maneira que desejam, não necessariamente de como tudo se passou, mas hesito em não deixar nada como legado. Meu legado para o futuro. Creio que esse direito seja uma das poucas coisas que me restam a desfrutar.
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página 173
Uma História para Aqueles que Querem Ouvi-la
- Líneia, noite do aniversário da RainhaA festa já estava chegando ao fim, com os principais convidados – Reis e Rainhas de alguns outros reinos e aldeias – já se recolhendo para suas respectivas casas. Era uma das poucas noites do ano em que tinha a oportunidade de me reunir integralmente com os outros membros de minha família, tais como meu filho, Damien, sua esposa Juliet e meus queridos netos, Julien e Liryen. De acordo com as regras do reino, qualquer ser de outra região pode vir
visitar Lineia, no entanto, aqui apenas podem viver determinados seres. Já faz muito tempo desde que me acostumei com essa distância que nos separa, no entanto, todo encontro não deixa de ser nostálgico pela curta duração que possuem.
Estava a observar a partida de alguns convidados quando, de repente, sinto umas pequenas mãos me cutucarem na altura dos joelhos. De início, pensei que fossem pichys a pedir que me movesse um pouco para que pudessem ter uma melhor visão do grande desfile que a saída daqueles Reis e Rainhas havia se tornado, mas eu estava enganada. Os donos daquelas mãozinhas eram Julien e Liryen, e tinham sorrisos brilhando no rosto.
- Vamos vamos, vovó! – chamou Liryen enquanto puxava levemente a saia de meu vestido. Era uma menina agitada, mas no fundo era um doce. Certamente havia puxado a mãe, Juliet, nisso também, além da aparência graciosa.
- Mas ora, vamos o quê? – perguntei, confusa com aquele chamado.
- O quê mais? Você prometeu que no nosso próximo encontro nos contaria uma história! – respondeu o pequeno Julien, acompanhando a irmã na euforia.
- E já está quase no final da festa! – completou Liryen, beirando um tom melancólico. Sorri para ela, porque entendia tão bem quanto eles como aquela despedida era difícil. A próxima visita era sempre incerta, e era comum passarmos meses e mais meses sem que nos víssemos.
- Oh, é claro! Como pude esquecer-me disso? – disse enquanto me deixava levar por aqueles pequenos seres.
Chegamos a uma pequena clareira, iluminava apenas por poucos lampiões que emitiam uma luz azulada e pálida. Sentei-me e logo de seguida senti aqueles dois tomarem seus respectivos lugares: um de cada lado, recostados em mim. Abri um pequeno sorriso com aquele gesto e com aquela iniciativa. Fiquei feliz em ver que meus netos gostavam de histórias, diferente do pai. Era um fato que Damien nunca tivera muita paciência para ouvir histórias, sempre muito sério e concentrado, mas um filho insubstituível. Mas aqueles dois que se sentavam ao meu lado não, com certeza não, pelo jeito que exalavam o entusiasmo que sentiam.
- E que tipo de história vocês querem ouvir? – perguntei, olhando para cada um a espera de uma resposta.
- Aventura! Com um herói que aparece e salva a todos! – respondeu quase de imediato Liryen, praticamente pulando no meu colo.
- Não! Uma de suspense e terror, com fantasmas! – retrucou Julien ao ouvir a ideia da irmã.
E assim seguiu-se uma agitada discussão sobre qual seria o tema da história que iriam ouvir. Era óbvio que nunca chegariam num consenso, pois apesar de serem irmãos eram também infinitamente diferentes. Tinha de ser eu a por um fim naquilo, por mais divertido que a cena parecesse.
- Chega! Se não, ficam os dois sem ouvir nada! – repreendi-os, apesar de não alterar um tom. Nunca consegui dar uma verdadeira bronca em nada nem ninguém, um grave defeito meu de acordo com Adrien que eu nunca quis consertar. -... Acho que já sei que história irei contar para vocês. É uma lenda pouco conhecida, que poucas pessoas conhecem.
- V-verdade? Conta, conta! – responderam os dois em uníssono, concordando pela primeira vez.
- Para alguns é uma lenda, para outros meramente uma história... Não se sabe ao certo. É sobre um homem cujo nome anda perdido ou esquecido, e as escolhas que fazemos e que somos forçados a fazer. – comecei, sentindo um leve frio na espinha ao falar aquela introdução. – Há muito tempo, existiam dois amantes, duas pessoas com quem o destino decidiu brincar. Eles nasceram na época errada, em distantes lugares, mas foram unidos brevemente pelo mesmo destino que mais tarde decidiria separá-los. A inocência foi aquilo que os uniu, levando-os a explorar aquele sentimento puro e novo que os aproximava. Só que então, em alguns poucos minutos, tudo aquilo terminou. Sumiu, deixando para trás uma singela rosa e uma promessa de se reencontrarem. E então uma grande guerra veio, fazendo com que o que já era distante parecesse mais inalcançável do que nunca, e aqueles dois foram para lados completamente opostos. Os dois grupos se enfrentaram, um lutava por mais poder e outro pela liberdade que lhes havia sido negada há muito, no entanto, em uma guerra não existe mocinhos nem vilões, existem sobreviventes.
Aqueles dois amantes se reencontraram, sim, mas não da maneira que esperariam ou sequer desejariam. Foi em um confronto, durante uma batalha que aqueles olhos se reuniram, e a surpresa tomou conta deles. Por um lado, o estupor de felicidade por saberem que o outro estava vivo depois de todo aquele tempo, de outro, o terror de entender que eram inimigos. E ele foi até ela, sabem por quê? Porque ele queria que fugissem juntos para longe, onde a guerra ainda não tinha chegado. Para ela, era o momento de se fazer uma escolha, uma escolha que teria de fazer sozinha sem receber ajuda de ninguém. E vocês sabem o que ela respondeu? – me interrompi, olhando cada um dos netos nos olhos. Era perceptível que ansiavam por um final feliz, encantado, mas aquela história não era assim. – Ela disse-lhe
não. Foi assim que, sentindo-se traído pelo que acreditava ser verdade, aquele homem arrancou seu coração fora com as próprias mãos, sumindo. E ela chorou. Chorou porque sabia que aquele amor que havia conhecido já não voltaria; chorou porque era uma escolha cruel e desumana, mas que precisava ser feita. O amor foi o maior tesouro entre aqueles dois, e ao mesmo tempo a chave para suas perdições. – terminei, olhando mais uma vez nos olhos de Julien e Liryen. Estavam boquiabertos, surpresos com aquele final inesperado. Era uma reação até engraçada.
- Mas, mas... Acabou? – Julien perguntou passados alguns segundos de silêncio, parecendo só processar aquele final depois de certo tempo.
Liryen não, ela tinha fechado a cara com um olhar pensativo. Penso que estaria refletindo sobre a história.
- Eu... Sinto pena do homem. – finalmente anunciou e, quando percebeu meu olhar inquisitivo, preparou-se para se explicar. – Quero dizer, acho que ele nunca recebeu amor de verdade e depois de tudo ainda acontece-lhe isso...
- Oh querida, mas ele certamente foi amado. – responde quase de imediato, atraindo aqueles olhinhos curiosos que buscavam uma explicação. – Por ela, pelos seus pais, irmãos. Absolutamente. Contudo, ele não percebeu que aquilo era amor, então ele chegou à conclusão que nunca recebera. Dizer que ele nunca conheceu é só uma desculpa. O amor é um sentimento que não é demonstrado com inveja ou egoísmo, não, ele é generoso e paciente. Amar é colocar as necessidades dos outros acima das nossas próprias, e foi isso o que ela fez. Foi isso o que aquela mulher escolheu. Ela escolheu não fugir e ficar com seus companheiros, mesmo que isso significasse que poderia morrer ali. E foi isso que ele não entendeu, porque ela não
o escolheu. Ela escolheu o que lhe era mais
certo, não o que era mais
fácil ou prático.– pude perceber que até Julien havia fechado a boca e escutava a conversa atento. -... Sabe,
’amor’ está a toda nossa volta. Olhe, tem amor ali, e ali também. – eu dizia enquanto apontava para alguns cantos sem um ponto fixo. Os olhares dos dois ficaram igualmente confusos, o que me fez abrir um sorriso carinhoso e acariciar suas cabeças. – Até enquanto eu falo com vocês agora é uma demonstração do meu amor por vocês, meus queridos. E é quando você entende isso que você pode ter amor por si mesmo.
- E se você não nota isso? – Liryen perguntou.
- Então é aí que você se torna uma pessoa digna de piedade, porque estará fadado a uma existência lamentável, quase como se fosse amaldiçoado. – conclui, vendo seus rostinhos abrirem sorrisos com otimismo, seguindo com um longo e profundo abraço.
Acho que foi só por isso que nenhum dos dois notou as lágrimas que se formavam nos cantos dos meus olhos. Tratei de limpá-las antes que pudessem vê-las, pois não precisavam se preocupar com esse tipo de coisa enquanto soubessem que era apenas uma
lenda.
- Mas... O que aconteceu com o coração que ele arrancou? – perguntou Julien, enquanto nos levantávamos.
- Ela o recolheu e o colocou em um lugar onde o tempo não passasse, pois assim ele ficaria guardado e intacto sem que mais ninguém pudesse machucá-lo. – respondi e nesse exato momento Adrien chegava até nós, então eu não me contive e solte um suspiro de alívio. No fundo, não sabia quanto mais aguentaria pensar nessa história sem desabar.
Se depois de tanto tempo lembrar disso ainda me magoava?
Sempre.
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Decidi que essa história não poderia se perder no tempo, e por isso tomei a iniciativa de gravá-la nas páginas desde diário na última vez que a contei. Lembro-me que Julien e Liryen me pediram para repeti-la diversas vezes depois disso, a cada encontro que tínhamos, mas sempre manejei mudar de assunto, ou contar alguma outra história que conhecia. O tempo foi passando e eles mesmos, enquanto cresciam, começavam a se esquecer dessa pequena lenda perdida no tempo. Mas eu não. Nunca.
Por que não esqueço?
Porque eu escolhi manter meu coração, mesmo sabendo de toda a dor e remorso que ele traria. Porque amar é
“apesar de”. Apesar de sofrer, porque sofrer amando é mil vezes melhor que sofrer de vazio e de solidão.
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~off~Espero que tenham gostado desse breve início. Escolhi escrever sobre essa cena - essa história em especial - porque pra mim ela é simplesmente marcante no desenvolvimento das personagens envolvidas, além de ter um sentimento especial pois aqui eu estou contando a perspectiva
pessoal da Irene, mesmo que indiretamente. Além de demonstrar algumas reflexões que, futucando a internet aqui e ali, achei que se encaixavam tanto para a cena quanto para explicar o raciocínio da Irene sobre as escolhas que fez.
No fundo, eu acho que poderia ter escrito algo melhor, mas como isso saiu no auge de uma súbita inspiração de madrugada, peço perdoem qualquer erro tosco que encontrarem ou alguma incoerência. O que eu posso estar estranhando nesse texto é ser basicamente em forma de diálogo, um estilo que não estou muito acostumada (sou muito mais descritiva, okay -q').
Se alguém quiser fazer alguma pergunta, fique à vontade para fazer aqui no tópico ou por MP. Pessoalmente, eu espero conseguir atualizar e escrever mais aqui o quanto antes, porque é uma das minhas personagens preferidas <3